
Eu sempre me surpreendo com a vida e como as coisas acontecem de formas pitorescas... Levando uma rotina normal de estudante, entro e saio de ônibus, várias vezes durante o dia. São eles, os mais diversos: microônibus ou convencionais, cheios ou vazios, confortáveis ou não.
Me instalo de maneira um tanto desordenada em mais um ônibus lotado. Ao meu lado, uma adolescente munida de um desses MP’s - 4,5,10.. eu já perdi as contas...- da moda. Super-hiper-mega-moderno, esse assessório tão comum àquela geração, conferia à sua dona um ar natural, corriqueiro, de menina descolada. Até ai, tudo normal.
O ônibus segue o seu destino normal até que, alguns pontos à frente, adentra a pessoa mais surpreendente que conheci naquele dia.
Uma senhorinha, negra, de aparência humilde, vestida de forma simples, senta-se à minha frente. Algo de familiar em sua aparência me chamou a atenção: sua estatura mediana, sua pele ainda viscosa, apesar da idade - aparentava uns 70 anos - e os seus cabelos lindamente trançados, me recordavam minha tão querida avó, infelizmente já falecida. Passei a olhá-la, curiosa.
Sobre o seu colo ela alojava dois saquinhos, provavelmente cheios de documentos e remédios, bem característico das idosas: me desculpem se estiver incorreta...
Em certo momento da viagem, o ônibus fez uma curva brusca e ela pendeu para seu lado direito, onde estava outra senhora. Após a colisão, ela se desculpou e virou para a janela constrangida. Talvez, para se livrar da vergonha, ela se pôs a abrir um dos saquinhos sobre seu colo. Eis, que nesse instante, ela resgata do interior do saco um objeto, pelo menos para mim, inimaginado: um radinho de pilhas!!
Mas engana-se quem pensou “Ah! Um radinho?!”, pois aquele não era - e nem seria, jamais, dadas as circunstâncias - um radinho qualquer. Aquele tinha em lugar do tradicional fone, um headphone (isso mesmo!!), daqueles enormes, rosinhas, como os que vêm acoplados nos gravadores infantis.
Nossa!! Pra mim aquela era uma visão surreal e era simplesmente fantástica!! Aquela avozinha tinha uma versão “retrô” do MP da minha vizinha. E ela parecia tão satisfeita com seu uso quanto a adolescente ao seu lado, talvez até mais. Digo mais, porque sorria ao sintonizar a estação do seu gosto e porque se embalava ao som da melodia.
Por certo, a qualquer outra pessoa dentro daquele ônibus, aquela era apenas mais uma das milhares de idosas que, assim como eu, entram e saem de ônibus lotados.
Entretanto, para mim, ela foi uma fonte de energia boa, um anjo bom que me transmitiu alegria e me fez perceber que para nos sentir em paz, precisamos apenas de leveza e simplicidade de uma criança.
Mais que isso, aquela mulher simples e seu radinho “show de bola” me fizeram perceber que o valor da vida está em ser feliz com o que se tem: seja com os objetos ultramodernos, seja com os mais antigos, mesmo os ditos démodé. Me fez perceber que o essencial é sorrir após ouvir aquela música gostosa que nos transfere a mundos tão lindos que nos esquecemos, até mesmo, do calor dentro do ônibus lotado.
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